Textos para ler, conhecer e entender a Diversidade Sexual

FAMÍLIA

Estas últimas semanas minha vida se viu permeada por discussões intermináveis sobre o que é família. Cada um tem um conceito formado, mas é bem verdade que muitos de nós conseguiu perceber que o que entendíamos como família, hoje não é mais tão rígido, pois o mundo mudou e novas formas de família foram criadas. Graças a Deus as pessoas que convivem comigo (e não poderia ser diferente) pensam como eu: Família é a união de pessoas que se respeitam, que se amam, se completam, que dividem suas dores e alegrias, ajudam uns aos outros, independente de consanguinidade.

Eu mesma fui acolhida quando mais precisei em famílias onde me senti e me sinto parte até hoje, e nem por isso nasci dentro daquele lar, de um pai de uma mãe biológica naquela casa. Entendem? Ou ficou confuso? Vejam, não estou renegando meu pai ou minha mãe que amo tanto e que também posso contar para tudo, mas vi durante essas semanas, pessoas dizendo que famílias são aquelas exclusivamente compostas por pai e mãe como genitores.

Ora, temos nos dias de hoje tantas outras composições familiares…e felizes…por vezes tão mais felizes que as chamadas “tradicionais”. E penso que isso é muito bom, pois assim temos crianças e adolescentes acolhidas em lares, em famílias, sejam elas compostas da maneira que for, mas com calor, com carinho, com companheirismo, com atenção. E é só o que eles precisam.

Eis os modelos com seus nomes para conhecimento:

– Família tradicional ou matrimonial – aquela formada pelo casamento

– Família informal – aquela conhecida união estável. Pode ou não ter registro. Quando não há impedimentos para sua formação. Diferença entre união estável e namoro: a intenção de constituir família.

– Família monoparental – formada por um dos pais (pai ou mãe) e seus filhos.

– Família anaparental – entidade familiar que se dá pelo vínculo afetivo e de convivência entre parentes, sem a presença dos pais.

– Família pluriparental ou mosaico – entidade familiar que surge com o desfazimento de anteriores vínculos e criação de novos.

Família paralela ou simultânea – quando um dos cônjuges está inserido em outro núcleo familiar.

Família unipessoal – aquela formada por uma única pessoa.

Família extensa ou ampliada – família formada por tios, primos, algum agregado.

Família substituta – aquela conhecida família de coração que se constitui quando a biológica não consegue cuidar. Na adoção ocorre de forma permanente, enquanto que na tutela ou curatela de forma provisória.

Família socioafetiva – aquela que tem estado de filho, pois não advém de vínculo biológico. Quando se desenvolve afeto de pai/mãe pelos filhos.

Família homoafetiva – decorre de duas pessoas do mesmo sexo.

Família poliafetiva – quando se tem duas ou mais relações afetivas e todos se conhecem. Não se trata de bigamia, pois não é casamento. Não pode lavrar esta união.

Família homotransafetiva – família composta por algum componente transexual. Já somam 60.000, sendo 53,8% formadas por mulheres.

E aí me aparecem pessoas simplistas e querem me convencer que só pode existir família se for constituída por papai – mamãe e filhinho? Ah não…família para mim só existe se houver amor.

KELLY CRISTINA GALBIERI – ADVOGADA E ASSESSORA DE POLÍTICAS PARA DIVERSIDADE SEXUAL


NOSSO MÊS DA DIVERSIDADE SEXUAL DO ANO DE 2022

A nossa querida Jundiaí comemora no mês de setembro o Mês da Diversidade Sexual desde 2017. Anteriormente tínhamos a última semana do mês, e quando assumi a Assessoria de Políticas para Diversidade Sexual entendi que precisávamos de um mês todo de comemoração e visibilidade. Em quase todos os anos tivemos a parceria da ONG Movimento Aliados. E a cada ano fica melhor…nossa luta por tolerância, empatia e amor cresce e conquista novos aliados.

Começamos este mês na posse da escritora Djamila Ribeiro na Academia Paulista de Letras. Óbvio que este evento não teve a autoria da Assessoria e nem do Movimento Aliados, mas assistir uma mulher negra receber tal honraria nos faz crer em um mundo melhor. Grandes nomes se rendendo ao seu talento enche os olhos de qualquer pessoa.

Tivemos cultura na conhecida “Sexta no Centro”. A comunidade LGBTQIA+ ocupando seus espaços e levando boa música para a sociedade em geral. E estava lotado…

A abertura oficial aconteceu na Sala Jundiaí, no Complexo Fepasa com a participação de artistas como drag queens e cantoras, além de falas de importantes nomes da região que há muito tempo militam nesta seara.

No dia 04 de setembro, o Projeto Primeiros Passos saiu da zona de conforto e foi ao Mundo das Crianças jogar volleyball, remar na canoa havaiana da ONG Velas do Japi e tomar um lanche com muita risada e companheirismo. Este encontro reforça a ajuda mútua, faz amigos, traz diversão e conquista cada mês mais participantes para o nosso grupo.

Ainda na primeira semana de eventos, participamos do grupo Diversidade e Fé, grupo religioso que tem a pretensão de incluir a comunidade LGBTQIA+ nas igrejas. Explicando: mostrar aos religiosos que acolhimento não pode ter escolha, deve atender a todos, todas e todes. Para participar do grupo não há necessidade de ter uma religião, pode inclusive ser ateu/atéia, só depende de amor.

Fizemos uma reunião com alunos do SENAC para ouvir os jovens, pensar políticas públicas a partir do olhar de quem vive a realidade brasileira de exclusão, preconceito e intolerância. A partir destes relatos conseguimos enxergar o que fica muitas vezes escondido debaixo do tapete.

Dia 13 a fala foi dentro do CDP (Centro de Detenção Provisória) para os próprios detentos durante a Jornada da Cidadania. Foi incrível. Consegui falar para alguns que ali estavam justamente por terem cometido crimes contra esta população. A fala começou de um jeito (cheio de risinhos entre eles) e acabou cheio de acolhimento. Nada como trazer a realidade para perto de todos nós.

Uma outra ação que vale destaque foi o Curso de Velas. Nossa incrível parceira TVTEC ofertou o curso com uma profissional extremamente gabaritada e ainda com direito a um lanche cheio de amor. As meninas que ali estavam ficaram maravilhadas. Recebi áudios de elogio com frases que nunca mais sairão da minha cabeça.

Tivemos também uma reunião de rede com uma escola estadual que está disposta a discutir o tema Diversidade Sexual, pois entende a dificuldade para algumas pessoas entenderem inclusive o significado de tantas letrinhas novas na sigla. Além desta reunião, uma faculdade local também nos procurou para uma “entrevista” sobre os avanços da comunidade jundiaiense. A ideia é gerar um documento em forma de trabalho universitário para ofertar aos alunos.

Orgulho extremo foi participar de uma roda de conversa com duas mulheres inspiradoras: Edith Modesto, nossa mentora e mãe simbólica de todo Brasil e Alexya Salvador, mulher trans, mãe de duas outras crianças trans (que foram rejeitadas por casais heterossexuais, graças às identidades de gênero), primeira reverenda da América Latina. Dá para imaginar o nível da conversa? Só amor…só acolhimento…só choro! Afinal o tema era Homofobia Familiar.

No dia seguinte recebemos outra estrela, a presidente da ONG Mães pela Diversidade, a famosa Maju Giorgi. Ela nos trouxe a luta desta ONG nos últimos 15 anos. Contou sua vida, seu trabalho e inspirou nosso grupo O Amor Vence a nunca desistir e arregaçar as mangas.

Falando novamente de cultura, no dia 22 um outro evento me fez brilhar os olhos. Fui ao SESC em uma roda de conversa literária e ali aprendi muito. O nome do evento já inspirava: “Livro, Livra, Livre! Bibliodiversidade em Pauta”. Quanta informação foi trazida pelas escritoras Amara Moira (além de escritora, é professora de literatura e ativista brasileira), Zênite Astra (educadora, licenciada em letras pela Unicamp) e mediado pelo querido Luan Vitor. Comprei livros, encomendei outros…tem muita coisa boa a ser consumida!

A Parada LGBTQIA+ dispensa comentários…rs. Foi um show de civilidade, de amor, de amizade, de visibilidade, de luta… Tivemos muita gente na Av. União dos Ferroviários mostrando que não há do que se esconder…muito pelo contrário…temos que nos orgulhar de sermos quem somos. Não tivemos problemas com discussões, brigas, furtos, bebidas…NADA! Só festa e consagração de seis meses de muito trabalho, reuniões e preparação! Foi demaisssssssssss.

Tivemos também entrega de cestas básicas às pessoas vulneráveis, reunião com a equipe do Projeto Diversidade nas Ruas (atendimento em locais de uso de drogas), almoço com os moradores em situação de rua e uma tentativa de um novo projeto que ainda não posso contar. Mas, que se der certo, vai bombar!!!

Enfim, este foi nosso mês! Arco íris total em nossa linda Jundiaí! Ano que vem tem mais! Vem para a rua com a gente! Mostre seu amor a todas, todos e todes. Eu garanto que sua vida ficará muito mais alegre!